"Bate leve,levemente/como quem chama por mim.../Será chuva? Será gente?/Gente não é, certamente/e a chuva não bate assim.../É talvez a ventania;/mas há pouco, há poucochinho,/nem uma agulha bulia/na quieta melancolia/dos pinheiros do caminho.../Quem bate, assim, levemente,/com tão estranha leveza,/que mal se ouve, mal se sente?/Não é chuva, nem é gente,/nem é vento, com certeza./Fui ver. A neve caía do azul cinzento do céu,/branca e leve, branca e fria.../Há quanto tempo a não via!/E que saudade, Deus meu!/Olho-a através da vidraça./Pôs tudo da cor do linho./Passa gente e, quando passa,/os passos imprime e traça/na brancura do caminho.../Fico olhando esses sinais/da pobre gente que avança,/e noto, por entre os mais,/os traços miniaturais/de uns pezitos de criança.../E descalcinhos, doridos.../a neve deixa inda vê-los,/primeiro, bem definidos,/- depois em sulcos compridos,/porque não podia erguê-los!.../Que quem já é pecador/sofra tormentos... enfim!/Mas as crianças, Senhor,/porque lhes dais tanta dor?!.../Porque padecem assim?!/E uma infinita tristeza,/uma funda turbação/entra em mim, fica em mim presa./Cai neve na natureza.../– e cai no meu coração."
Augusto Gil - Luar de Janeiro, 1909
.jpg)
Cai neve no meu jardim :D
P.S.: Tanto frio nesta terra tinha de servir para alguma coisa :P
Sem comentários:
Enviar um comentário